A Ana C., uma verdadeira contadora de histórias gosta quando falo do coração. Que bom.
Pediu-me então que lhe contasse a minha história de amor. Respondi-lhe que só o faria com o coração cheio ou vazio, só assim o consigo fazer. Hoje posso.
Não vou contar a minha história de amor porque essa está longe de acabar e toda a gente gosta de saber o fim das histórias. Conto a história de um amor que durou quase cinquenta anos e que para mim é a história de amor.
Ele era alto e moreno, sempre impecavelmente vestido e penteado. Fazia parte dos Fenianos e a dançar seduzia. Ela era uma figura frágil, talvez a menos vistosa das três irmãs. Mas foi por ela que ele se enamorou.
Viviam frente a frente. Ele de uma família Monárquica ela Republicana. O ódio entre as famílias não impediu de se amarem. Deixaram para trás os luxos de uma vida confortável e partiram um com o outro, apenas.
Durante anos caminharam pelo país, lado a lado, como sempre e assim foram construindo família. Uma família que teve o privilégio de testemunhar aquele amor tão forte, tão sereno, tão sólido...
Vê-los juntos era como se fossem um só, o habito que cada um tinha do outro, fazia parece-los um corpo, uma alma, uma vida... Para mim aquele amor era uma segurança.
Um dia ele partiu. Não avisou, nem nos preparou. Ela sobreviveu à sua morte, ou deixou-se viver por nós. Mas aquele amor não acabou por isso. Em cada oração que ela lhe fazia, a cada história dele que ela nos contava, renovava assim os seus votos.
Por isso vos conto esta história, e não a minha. Enquanto a escrevo olho para uma caixa. Nela encerro partes deste amor. Lá dentro está um livro de poemas escritos pelaminha avó e as alianças do seu casamento. Quanto ao livro, nunca o li. Basta-me lembrar de quando ela mo lia, baixinho e com a voz trémula de saudades.
Um dia passarei essa caixa para as mão da Francisca ou da Leonor. Uma delas será a guardiã, tal como eu também fui a escolhida.
Escolherei aquela que viver com o coração mais cheio.
13 comentários:
Oh querida, historias de amor assim sao tao marcantes. Espero um dia ter uma dessas historias, e poder guarda-la numa caixinha. :)
Apesar de ter ficado a pulguinha atrás da orelha de curiosidade pela tua história de amor, conseguiste, falo por mim, tocar me no coração.
Mas também, quando te leio, já sei que assim será!
não é novidade:)
Tens o dom da escrita, o dom de saber escrever com coração
Até fiquei "engasgada" de emoção!!!
Lindo, lindo.
Só mesmo alguém com muito amor, pode multiplicar amor...
Esta história de amor é linda, da sua só conheço pedacinhos, e esses renovam-se diariamente!
Um dia a Leonor e a Francisca terão para contar uma história de amor ainda mais bonita que esta!
JS tu sabes escrever do coração, vês? E já percebi que a tua avó te inspira para os melhores textos que nos dás. Que linda história, parece tirada de um romance, mas é apenas a vida real, tal como ela é. Adorava ter um tesouro assim guardado dentro de uma caixa.
Parabéns por esta história que agora já é um bocadinho nossa :)
Eu já tinha vindo aqui ler-te, confesso. Mas achei esta história tão mágica que não me atrevi a comentar. Mas vim cá relê-la e sabes? Os amores que nos antecedem - eu acho - sobretudo quando são deste calibre, inspiram-nos a construir a nossa própria forma de amar.
Há amores assim, que temos como modelos, que queremos eternizar em caixinhas para que nunca se gastem nem nunca se percam.
Tenho a certeza que, tal como tu, as tuas filhas hão-de saber inspirar-se nele para amarem muito. E serão guardiãs privilegiadas por terem nas veias o sangue de um amor assim.
Um beijo.
ainda não venho para ficar.. só desejar BOA PÁSCOA para esses lados :)
como estamos de leituras? a gostar?
até ao meu regresso .... bjs
POrque é que me emociono SEMPRE, quando escreves este tipo de posts?
Que história de amor tão bonita.Sempre haverá amores que por este ou aquele motivo são contrariados,mas alguns resistem a tudo.Como nessa história. Gostei muito. E gostei da forma como escreves. Parabéns. Um beijinho e Boa Páscoa
è um previlégio poder partilhar desta não história mas de... sim ..vida..!
São essas vidas que se transformam nas estrelas que brilham cintilantes nas noites ..escuras ..e nos apontam... caminhos..
bem hajas semeadora de estrelas..!!
Sanxeri, espero que a vivas!
Izzie, és muito querida, acho a tua curiosidade encantadora.
Ana Miguel, dramática sempre...deliciosamente dramática.
Mad, obrigada ;)
Momentos, o amor é assim mesmo,o único que cresce quando se reparte!
Carlos, boa Páscoa! Quanto às leituras: ex-ce-len-tes!
Xs, porque és uma romântica incurável?!?
Joanissima, obrigada pela visita e pelas palavras. Tens razão, aquele amor e aquela forma de amar será sempre a minha inspiração.
Ana C. eu é que tenho a agradecer por te tereslembrado de mim. Sim, a minha avó será sempre a minha inspiração em tudo aquilo que faço. Era daquele tipo de pessoas que toca fundo nas nossas vidas. Uma verdadeira matriarca dos livros daIsabel Allende.
Mariinha, obrigada pela tua visita e pelo teu comentário. Tu és daquelas pessoas de coração cheio...
Anonimo, obridada pela visita. Acho que todos nós temos estrelas na vida. Semeadores é que há poucos, mas se cada um semear um pouquinho, será tudo mais brilhante.
Creio que a tua avó é a Srª. Veiga.
Se sim posso dizer que fui um privilegiado por a ter conhecido e também ao seu marido que partiu num verão, se a memória não me prega partidas.
Lembro-me de breves brincadeiras que tínhamos em intervalos criados da aprendizagem naquela sala de jantar na Rua de S. Francisco.
Raisparta a lágrima que quer sair contra a minha vontade!!
Beijinhos...
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