Há muitos anos atrás eu vivia nesta rua. Nesta rua havia uma loja da nossa família. Tinha portas azuis, tecto folheado a ouro e as paredes eram pintadas a rabo de bacalhau. Tudo era antigo, tudo se tentava conservar, de tal forma que uma visita guiada era uma verdadeira viagem numa máquina do tempo.
Usávamos sempre as louças antigas, da fundação da casa. Na montra quase sempre as terrinas com o nome do fundador, do tempo em que Manuel se escrevia Manoel e Joaquim era um nome delicado. A terrina mais pequena era destinada à chila. Era uma das peças preferidas da minha mãe, aquela terrina quanto mais desejada era pelos clientes, mais importante se tornava.
Um dia, era eu pequena e parti a terrina. Parti em mil pedaços. E foi de tal forma grave que os restos da terrina misturados com a chila se confundiam com as minhas lágrimas. Mas houve alguém que viu, e colou meticulosamente cada pedacinho, de tal forma que semanas depois ela voltou ao lugar de sempre.
Hoje lembrei-me de tudo isto. Lembrei-me também da jarra da Avó Linda, da saboneteira do quarto do Toninho, e de tantas outras coisas que parti e vou partindo...
Lembrei-me também que já não existe aquele tecto, que as pinturas foram destruídas e que as portas azuis foram partidas.
Curioso... a terrina da chila, essa permanece intacta.
11 comentários:
tu tens histórias encantadoras.
:)
Infelizmente as coisinhas nao ficam como nós as deixamos. E o que muda deixa saudades...
Gostei tanto deste post...
Ohhh que ternura...
Por momentos fizeste-me recordar a minha infância...
Que saudades de ser pequenina...
Beijo
História muito bonita, apesar de triste. Pensamento positivo: Ficou um relicário de recordações. Há quem não tenha onde as guardar...
E quem não tem uma coisa nem outra?
BJS do primo
Ternurento,encantador! Gostei de ler!
Obrigada a todos!
Histórias encantadoras estas... Muito obrigado pela partilha...
Stay Well*
Ler o teu texto fez-me recuar no passado. Muito bonito
O teu Post fez-me recordar a minha infância. A confeitaria salvação, o Toninho que não o vejo há anos e a minha querida explicadora a Srª. Dona Veiga que não sei o que é feito dela.
Não sei se é dessa loja que te referes mas foi isso que me fez lembrar pois foram os melhores anos da minha vida.
Que bem que ia uma barquinha da Salvação... não havia nem haverá igual!!
Beijinhos
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