Há dias assim.

As vezes sentada à mesa em família viajo no tempo. Volto à minha infância, à minha adolescência e passo até por um futuro que ainda não vivi.

Olho em volta e apercebo-me o quanto as pessoas mudaram e o quanto permanece tudo igual. Existe uma dinâmica própria de cada família, mas existem traços comuns a todas, atrevo-me a dizer.

Costumo dizer que tenho dois Natais e tenho. E cada ano que passa todos mudam um pouco e tudo permanece igual. Mantém-se a azafama, a agitação, a ementa e o apetite. Mudamos nós. Uns mais que outros, mas todos mudamos um pouco.

Olho as meninas e vejo uma diferença enorme. Sinto o tempo a voar e penso nas meninas daqui a uns anos. Penso nelas sentadas à mesa com os maridos e filhos. A Francisca vestida a rigor e a Leonor com uma túnica comprada numa viagem de aventura. Talvez seja assim ou ao contrário, mas isso também não interessa nada.

Olho para elas e a mim só me interessa uma coisa, ter as duas à mesa na noite de Natal, com o mesmo sorriso, alegria e cumplicidade que tem hoje.