quinta-feira, 11 de março de 2010

A lostra...

Eu sou do tempo em que a maior parte dos conflitos eram resolvidos à lostra.

Com uma ou duas lostras, quase tudo se punha nos eixos. Conflitos entre pais e filhos, estavam longe de ser analisados, à segunda frase a dita lostra resolvia a questão por ali. Se as vizinhas se chateavam, ela resolvido tudo à lostra e nós assistíamos da janela a matiné grátis. As partilhas mal resolvidas, acabavam normalmente à lostra, o aluno insurrecto levava uma lostra, o amigo que lhe batesse, levava outra losta. Naquele tempo todos a davamos e todos a recebiamos.

Eu, apesar de ter sido a criança mais aborrecida e monótona do mundo, também levei as minhas lostras. Contudo, na minha família usava-se mais o tabefe ou a galheta. O meu pai era mais adepto da galheta, a minha mãe do tabefe. O tabefe materno vinha sempre acompanhado do alerta de podermos ficar com um diamante cravado na testa.

Não vivi no meio da violência, mas cresci a ver o Obelix a distribuir lostras pelos romanos, a ver o Sandokan em grandes lutas pelas Ilhas da Malásia (que apesar de todo o exotismo ele até dava mais facadas que lostras) e nem por isso me acho uma pessoa violenta.

Hoje em dia não se usa muito a lostra. Usamos o verbo. A lostra traumatiza. Mas nunca vi tanta violência como agora.

9 comentários:

Hugo Macedo disse...

Excelente texto, repleto de verdade. A "lostra verbal" está muito na moda, nos dias de hoje...e é extremamente violenta, sem dúvida, provavelmente mais que uns tabefes.

Cat disse...

Lostra?! Não conhecia essa palavra. Mas é verdade, há palavras e gestos que magoam muito mais do que uma lostra.

Ana M disse...

Já não ouvia a palavra "lostra" há imenso tempo. Texto excelente,como habitualmente, Juzinha. Parabéns!

Disse disse...

lostra.... há anos que não via essa palavra... durante os 5 anos da minha licenciatura (e já lá vai mais do dobro de vida de desassossego) "vivi" com umas colegas de Barcelos que em cada dia usavam essa e outras palavras que para mim eram desconhecidas.
E a verdade do que dizes? Indubitável.
Era assim que as coisas se resolviam e ficavam resolvidas. Sem problemas, sem psicólogos, sem traumas, sem psiquiatras e sem medicação. Uma lostra na hora certa e era meio caminho andado para uma vida feliz.

P.S.: Agora só faltava descobrir que eras de Barcelos...

Izzie disse...

bem verdade minha querida!

Às vezes uma lostra feria muito menos do que tanta coisa que hoje em dia se vê por aí!

Poetic Girl disse...

Acredita... se ainda existisse essas tal lostras talvez as pessoas não ultrapassassem barreiras que agora ultrapassam. E o grau de violência é que assusta, toma medidas assustadoras... bjs

JS disse...

Hugo, concordo plenamente ainda por cima com a notícia de hoje...
Bem vindo! E parabéns pelo teu blogue, gostei mesmo muito.

Cat, pois eu achava que era usada em todo lado, mas pelos vistos não!

Ana Miguel, um elogio vindo de ti é um bilogio!!! Obrigada Noquinhas!

Disse, ele há coisas do catano!!! Sabes que Barcelos tem destas coisas...

Izzie, usemos a lostra!!!!

Poetic, pena não a podermos usar mais vezes!!

DIABINHOSFORA disse...

E viva a lostra, o tabefe, a galheta, a lostíbia, o chapadão...na verdade até com o chinelo levavamos. Mas uma coisa é certa, as palavras por vezes doem muiiiiiiiiiiiiiiiiito mais, quando são atiradas para bater!
Grande post JS!
bjo

JS disse...

Diabinhos obrigada!Não me lembrei do chinelo!!!! Tão eficaz que ele era!!!

Um abraço*