segunda-feira, 28 de junho de 2010

Olhar e ver.

Ver as pessoas quando elas menos acham que estão a ser observadas é das coisas que mais gosto de fazer. Shoppings, salas de espera e filas para check in são sem dúvida observatórios perfeitos.

Mas um almoço num shopping ao domingo é sem dúvida uma "festa" aos sentidos. Numa mesa de canto onde me sento para amenizar o barulho da minha querida e complicada família, fico absorvida pelas outras mesas. São famílias inteiras, três gerações à volta de uma mesa de fast food, onde as avós atarefadas tratam dos netos. Elas decidem tudo desde o que o neto come e quando deve parar de comer. São elas que cuidam deles durante a semana e ao fim de semana a mãe continua sem voto na matéria. Mas também é a avó que se levanta quando o neto cai, ou que limpa a mesa quando ele vira o sumo. E se por um lado sinto uma certa inveja daquelas mulheres que contam com a mãe para tudo, por outro me regozijo por ser eu e só eu a criar as minhas filhas.

Noutro canto, alternam-se casais com filhos de colo a dormir no carrinho, trazem com eles taças de gelados e a esperança de um doce a dois enquanto o filho dorme. Comem em silencio. Não por não terem o que falar, mas porque necessitam daquela pausa. É certo que dentro de 10 minutos, acaba o gelado e o sono, mas eu sei que aquela pausa é vital.

Depois vejo os miúdos, com penteados malucos, roupas coloridas, cada um igual a si próprio e nós achando que eles parecem todos iguais... E adoro ouvi-los gargalhar, a falar de tudo e nada, mas nunca dos outros. Aqueles putos vão ficar nos nossos lugares, vão ter empregos e criar filhos, mas para já o que importa é ter a tatuagem no sitio certo e tirar boas notas. Além de serem mais excêntricos e exuberantes do que nós éramos, na verdade eu era uma tóto, eles são inteligentes e conscientes.

Passo os olhos por todos, enquanto como o meu almoço e tento gerir a minha mesa, entre ameaças de palmadas, beijos e negociações. Elas fazem barulhos, cerro os olhos para tentar ouvir o meu marido e vejo que todos olham para nós.

- Aquelas miúdas, umas semanas em minha casa e engordavam logo!

- Já viste quando o nosso filho tiver aquela idade...

- Fonixxxxxx, já viste aqueles... a mim não me apanham numa cena assim. Bazaaaaaaaaaa!!!

5 comentários:

Ana C. disse...

Era capaz de ficar horas sentada a observar as vidas dos outros a passarem à minha frente. Sabes que no princípio do nosso namoro o Hugo convenceu-se que eu olhava para os homens todos de soslaio, quando só estava a observar gente. Hoje em dia já não liga nenhuma ao meu estado catatónico :)

Naná disse...

Eu também costumo fazer isso! Adoro... até fiz um post sobre uma dessas observações!

maria teresa disse...

É uma mulher feliz e vou dizer-lhe porque penso isto. É feliz porque "manda" nas suas princezinhas, assume a responsabilidade que lhe pertence (incluo aqui também o seu marido) Sou avó e estou sempre pronta para ajudar, mas sei que não devo ser eu a educá-los, é evidente que quando estão em minha casa há algumas regras que eles têm que seguir, é assim em sociedade. Os avós podem ajudar mas devem ser "tropa de retaguarda".
Abracinho

Ritinha disse...

... ;)

Sutra disse...

Amei este texto... profundamente bem escrito... inteligência revelada!


bj
Sutra